sexta-feira, 9 de julho de 2010

Imprensa II


Na última postagem, exprimi o que acho sobre o papel da imprensa e como o jornalismo barato pode prejudicar pessoas e desinformar a sociedade. Para completar meu raciocínio, cito dois fatos que vivenciei. Um primeiro, na época em que defendi produtores rurais em uma ação civil pública, em razão da plantação de soja transgênica. Três deles, de fato, plantaram sementes geneticamente modificadas em uma época que ainda se discutia sobre seus benefícios/malefícios (o que não vem ao caso agora), enquanto outro, por um erro de procedimento do órgão fiscalizador na hora da coleta das amostras, não tinha plantado e, mesmo assim, teve sua lavoura interditada. Como é comum, no momento do embargo, não se sabe como (lógico que se sabe, sempre tem algum engravatado querendo aparecer), surgiu a imprensa para rotular os quatro como criminosos, imaginem, plantando transgênico e colocando em risco a saúde de toda população. Até aí, na medida do possível, tudo bem. Claro que alguém vai pensar que, se estavam naquela situação é porque mereceram. Acontece que, quando provamos processualmente que um deles havia sido injustiçado e, por conseqüência, caiu o embargo e a colheita foi autorizada, oportunizamos a imprensa de também corrigir a informação, chamando-os para acompanhar esse procedimento. Por óbvio, não apareceram. Só voltaram quando da destruição da soja dos outros três agricultores, para mostrar que os malfeitores estavam sendo punidos. Com toda razão, os proprietários não permitiram a entrada deles nas fazendas, impedindo a nova reportagem. Em outra ocasião, fui testemunha de como se paga qualquer preço pela audiência. Cheguei a discutir com um cinegrafista e um motorista da RBS TV, que a qualquer custo, queriam filmar um jovem que se envolveu em um ato ilícito, mesmo que a própria polícia buscasse causar o mínimo de danos possível à imagem dele. Rasteiramente, chegaram sugerir a um policial, na Central de Polícia da Capital, que impedisse o acesso dele pela garagem (onde todos os conduzidos entram), para forçá-lo a vir pela calçada, o que possibilitaria a filmagem. Agora vejamos. Os dois exemplos mostram uma imprensa compromissada com a verdade, com a ética e com a dignidade da pessoa humana? Ou apenas uma "empresa" mesquinha, em busca de audiência e dinheiro, custe o que custar? (para os outros, logicamente). Trabalhei 18 anos em rádio, inclusive no jornalismo. Não sou formado nessa área e nem preciso, para saber que a liberdade de informação está garantida constitucionalmente e deve ser sempre preservada, para nosso próprio bem. Mas também aprendi com a vida que não se deve abrir mão da ética e da justiça para com as pessoas, independente do que tenham feito. E a boa conduta que serve para nosso dia-a-dia deve servir também ao nosso ofício. Ainda mais quando ele tem o poder de construir ou destruir imagens, carreiras, pessoas. Então hoje, quando vejo uma notícia na televisão como telespectador, também tento me colocar do outro lado, sem preconceitos. Não compro tudo que tentam me vender, até porque conheci de perto a índole, o caráter e a motivação dos nossos fabricantes de notícias.

Nenhum comentário: